Síndrome de Tourette

A síndrome de Gilles de La Tourette recebe esse nome em homenagem ao neurologista francês George Gilles de La Tourette, que em 1985 descreveu casos de tiques múltiplos na infância. Segundo o  DSM- V caracteriza-se por ser um transtorno do neurodesenvolvimento em que ocorrem múltiplos tiques motores, e um ou mais tiques vocais, com duração de no mínimo um ano, com início durante a infância ou adolescência.

Tem uma prevalência de 1 para cada 100 crianças, e é mais frequente em homens do que em mulheres

O que são os tiques?

São movimentos ou sons súbitos, rápidos e recorrentes, não rítmicos, que acontecem em um contexto e frequência inapropriados.

Podem ocorrer na infância sem que necessariamente a criança tenha a síndrome de Tourette, e a diferença é que nesses casos os tiques têm duração de menos de um ano.

Geralmente antes do tique a criança sente uma urgência premonitória, caracterizada como uma sensação de desconforto interno, que melhora após o tique. Podem ser suprimidos voluntariamente, porém com um aumento rebote após a supressão.

São classificados em simples, quando envolvem apenas um músculo, ou complexos, quando envolvem vários grupamentos musculares.

São exemplos de tiques simples motores:

  • Piscar
  • Balançar a cabeça
  • Encolher os ombros
  • Apertar o abdômen

São tiques simples vocais:

  • Tossir
  • Pigarrear
  •  Assobiar.

Como tiques motores complexos temos:

  • Saltar
  • Cuspir
  • Séries de movimentos elaborados

 São tiques fônicos complexos:

  • Enunciados mais elaborados envolvendo frases e palavrões

Os tiques simples são os mais comuns, embora os complexos permaneçam como símbolo da doença.

Situações de ansiedade e estresse levam a um aumento dos tiques, e torna-os menos suprimíveis voluntariamente.

Entre os 10-12 anos de idade os sintomas são piores, podendo ocorrer uma remissão em até 85% dos casos na idade adulta. O curso dos tiques, quando eles permanecem, é variável em intensidade e frequência. Muitas vezes alguns deles desaparecem durante a vida, dando lugar a outros, e nem sempre os dos tipos vocais ocorrem simultaneamente aos motores.

Diagnóstico

As doenças psiquiátricas mais associadas com a síndrome de Tourette são o Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade e o Transtorno obsessivo compulsivo e essas doenças sempre devem ser investigas em pacientes com Tourette.

O diagnóstico é feito a partir de uma avaliação médica, feita por um psiquiatra ou neuropediatra, e devem ser excluídos outros distúrbios do movimento.

Tratamento

O tratamento envolve principalmente a psicoeducação. É uma doença que causa bastante angústia em familiares e amigos, algumas vezes até mais do que para os próprios pacientes, que acabam aprendendo a conviver com os tiques. Os familiares costumam ficar bastante incomodados e preocupados com a frequência e isso pode levar a um desgaste nas relações familiares. Portanto o primeiro passo é informar aos pais acerca do curso transitório dos sintomas e que trata-se uma doença que tem grande probabilidade de remitir na idade adulta.

O tratamento medicamento nem sempre é necessário, o que não significa que não deve ser feito um acompanhamento médico. O acompanhamento com profissional da área da saúde é sempre recomendado para avaliação e orientação sobre a necessidade de início ou não da medicação. A avaliação sobre a necessidade da medicação é feita a partir do prejuízo funcional que os tiques trazem para a vida do indivíduo. Geralmente os medicamentos utilizados são os antipsicóticos, como a risperidona, porém também são opções terapêuticas anti-hipertensivos alfa-agonistas como a clonidina. Outra opção de tratamento pode ser a toxina botulínica, e a estimulação cerebral profunda, em casos refratários.

A terapia comportamental sempre deve fazer parte do tratamento, e inclui o treino de reversão de hábitos, que consiste em ensinar o paciente a fazer movimentos socialmente aceitáveis em substituição aos tiques.

Texto baseado no artigo:

Mittal SO. Tics and Tourette’s syndrome. Drugs in Context 2020; 9: 2019-12-2. DOI: 10.7573/dic.2019-12-2

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